Entre colinas que abraçam o céu e os rios que agora, em voz alta, sussurram lamentações, uma sombra pesada paira sobre as ruas serenas da cidade. O drama de Arnold Pereira Costa, quase septuagenário, entrelaçado às frágeis fibras da vida, desdobrou-se como um capítulo de desesperança, uma sinfonia dissonante em meio à quietude das paisagens.
Seus passos foram interrompidos pelo acaso, pela cruel casualidade que o atirou em um labirinto de negligência e desespero. Um frágil fêmur quebrado durante um acidente doméstico e uma espera que se arrastava como a sombra noturna sobre a terra. O hospital, um farol que se apagou diante da necessidade de socorro, tornou-se seu refúgio durante longos e incontáveis dias até se transformar na personificação da acomodação, incapaz de acolher a urgência nos olhos dos familiares de Arnold, que clamavam apenas por uma cirurgia. A espera desesperada daquele idoso, marcada por dias dilatados numa história tão bem contata pelo portal Impacto da Notícia, revelou as brechas de um sistema de saúde que carece não apenas de recursos, mas, principalmente de empatia e eficiência.
O clamor dos familiares ecoou pelos corredores vazios da burocracia, uma súplica perdida em meio ao ruído de palavras vazias. Um deles, num ato de desespero, ergueu sua voz implorando por apoio, mas quando este chegou, pode-se dizer que era tarde demais.
A transferência, uma jornada marcada por trilhas de incerteza, levou, depois de 40 dias, Arnold aos portões do Hospital Costa do Cacau, em Ilhéus. Uma promessa de salvação tingida de demora e desorientação, onde a família, como uma guardiã inabalável, tentava, em vão, criar um lar improvisado nos espaços impessoais daquela unidade de ensino.
A filha, âncora firme em mares agitados, lutou contra os vendavais da desinformação e da falta de suporte, tentando erguer um lar improvisado nos cantos frios de um hospital distante. Enquanto isso, o relógio impiedoso marcava os dias de espera, os exames desatualizados e a dor que crescia no peito da família como um grito sufocado.
A dança dos protocolos engoliu a urgência, enquanto a saúde de Arnold pendia como uma frágil pétala na tempestade. Os murmúrios da revolta, capturados em vídeos que navegaram pelas redes sociais, revelaram não só a dor dilacerante da perda, mas a cólera da família, que clamou por dignidade e ações concretas, diante do descaso.
Então, a morte, implacável e inoportuna, após 73 dias de batalha, ceifou a jornada de Arnold Pereira Costa antes mesmo que a cirurgia se materializasse, transformando a espera numa triste despedida. Arnold, agora apenas um relicário de memórias, retornará ao bairro Uldurico Pinto, na cidade de Água Fria, para o último adeus.
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