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Domingo, 20 de Abril de 2025

Crônicas

Acredite, há encontros que não são obra do acaso

A mãe de Eben nunca havia planejado ter um filho.

Água Preta News
Por Água Preta News
Acredite, há encontros que não são obra do acaso
Dra. Janine e Eben.
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*Crônica de Edelvânio Pinheiro

Há momentos na vida que desafiam explicações racionais. São instantes em que o tempo parece suspender sua marcha habitual, e tudo ao redor ganha um significado que vai além do que os olhos podem ver. Certos encontros não acontecem por acaso, não são fruto do simples acaso ou de coincidências fortuitas. Eles carregam um propósito que só pode ser compreendido com o olhar da alma.

Alguns desses encontros são decididos muito antes de acontecerem. São escritos nas páginas invisíveis do tempo, tramados por fios que a razão não enxerga, mas que o coração reconhece de imediato. Outros são sussurrados ao espírito, guiados por mãos invisíveis que nos conduzem ao lugar certo, na hora exata. Foi assim com o meu pequeno Eben Howard.

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A mãe dele, já quadragenária, nunca havia planejado ter um filho. A maternidade era um caminho que não estava em seu horizonte. Mas Deus, em Sua infinita sabedoria, escreve histórias que nós, em nossa limitação, jamais poderíamos imaginar. O chamado para a maternidade veio como um vento suave, movido por razões espirituais que guardo nas originais que ainda escrevo e que darão origem ao meu oitavo livro, uma obra que levará o nome do meu ultimogênito e ensinará, na prática, sobre a arte de criar um filho desde a gestação até os primeiros anos de vida.

Eben, indubitavelmente, é uma dádiva, uma dessas almas raras que, ao chegar ao mundo, preenchem um espaço e transformam tudo ao redor com sua luz. Seu nascimento, além de um acontecimento biológico, teve uma finalidade maior, tecido pelas mãos de Deus. Mas para que essa chegada ocorresse, foi preciso uma ponte entre o plano celestial e o terreno — um elo humano que tornasse possível o que já estava escrito nos desígnios divinos. Essa ponte tem olhos atentos, coração generoso e atende pelo nome de Janine Vargas. Médica renomada, ela interveio, com a percepção e sensibilidade de que, em certos momentos, a medicina ultrapassa a técnica e se torna missão. Depois da decisão do Criador, foi a doutora quem tornou real a existência do meu filho, cumprindo um papel que transcende sua profissão.

Na tarde desta segunda-feira, dia 17 de março de 2025, Eben, agora com sete meses, voltou ao consultório onde esteve quando tinha apenas dois. Mas desta vez, não era apenas um bebê frágil e recém-chegado ao mundo com uma terrível icterícia; era um pequeno explorador, atento e curioso. Ao ver a doutora, caiu logo em seus braços como quem reencontra um pedaço da própria história.

Foi então que seus olhos pequeninos brilharam ao notar algo que parecia chamá-lo, como um ímã silencioso de fé e mistério. Era a medalha de São Bento, que pendia suavemente de um cordão dourado no pescoço da doutora Janine. Eben a segurou com as mãozinhas ainda incertas, mas cheias de encanto, como se, naquele instante, compreendesse algo que os adultos levariam uma vida inteira para entender. Tocou, admirou, girou entre os dedos, aproximou do rosto e sorriu, num gesto de reconhecimento que desafiava qualquer explicação lógica.

Havia ali algo além da matéria — uma ligação invisível, um reencontro espiritual. Talvez, em sua essência mais pura, ele soubesse que aquela imagem representava proteção, amor e presença divina. A doutora, atenta, sorriu emocionada, permitindo que aquele momento se desenrolasse com toda a sua beleza. Depois, os olhos de Eben dançaram entre as prateleiras do consultório e a ordem impecável daquele espaço que, de alguma forma, lhe era familiar, mas foi a medalha que prendeu sua atenção como um relicário sagrado, uma presença acolhedora que o abraçava sem palavras.

Gratidão é um sentimento que se traduz em gestos, em olhares, em presenças que falam mais do que qualquer palavra. O presente simbólico que Eben levou à doutora era pequeno diante da grandeza do que ela representa na vida do meu filho. Porque, na verdade, não se trata apenas de medicina, mas de missão divina. Existem médicos que curam, médicos que cuidam, mas há aqueles que, com uma sensibilidade rara, sabem abrir portas para que a vida aconteça, guiada por amor, respeito e entrega, transformando a própria essência da profissão em algo que vai além do físico, tocando o espiritual.

Talvez tenha sido por isso que a própria doutora disse que é a mãe espiritual de Eben. Seu papel na existência de meu filho não se limita ao campo profissional — é um elo divino, um chamado que ela atendeu sem talvez sequer imaginar a magnitude do que fazia. Deus escolhe pessoas para serem instrumentos de Sua vontade. E, naquele consultório, entre sorrisos, medalha religiosa e olhares cheios de significado, uma certeza se tornou ainda mais clara: há encontros que não são obra do acaso, mas do céu.

 

*Edelvânio Pinheiro é bacharel em Jornalismo pela Católica (UCA) e licenciado em Letras Vernáculas pela UNEB. É também pós-graduado em Ciências Políticas, radialista e autor de sete obras, incluindo crônicas, livro-reportagem e literatura infantojuvenil.

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