Crônica de Edelvânio Pinheiro*
A 87ª Companhia Independente de Polícia Militar amanheceu em silêncio. Não o silêncio que precede uma batalha, mas o silêncio que se instala quando a perda de um colega nos deixa sem palavras. Ontem, a triste notícia cruzou nossos comunicadores e se espalhou como um sinal de alfa 11: perdemos um guerreiro. Um de nós. O sargento Soares, homem de coturno inteiro e coragem indomável, travou sua última batalha contra um inimigo invisível, o câncer.
Nossa unidade, por muitos anos, contou com suas ações decididas em nossa missão de servir e proteger. Ele era parte indissolúvel da nossa tropa, um soldado que defendeu a sociedade nas ruas e, nos últimos meses, combateu uma guerra interna contra a doença que atravessou seu caminho no último mês de abril.
A quimioterapia se tornou seu novo teatro de operações, as salas de hospital sua base avançada e os homens de branco seus companheiros na batalha pela vida. A cada sessão, enfrentava a dor como se fosse o fogo inimigo, o desconforto como uma emboscada sorrateira. Sua fé inquebrantável era sua arma mais poderosa, nunca abaixando a guarda. Rendendo-se, jamais! Afinal, esta é a marca dos que escolhem calçar coturnos em vez de sapatos.
As noites insones e os momentos de incerteza eram como patrulhas noturnas em território hostil. Mas o sargento Soares permaneceu firme, corajoso como sempre fora nas ruas que ele diuturnamente patrulhava e deu o seu melhor. Rendição e desistência não faziam parte de seu vocabulário, nem quando a fadiga ameaçava derrubá-lo.
Quem o visitou no hospital percebeu que ali não havia apenas sua luta pela própria vida, mas também sua determinação em deixar um legado para seus colegas da Polícia Militar. Ele queria ser um exemplo de coragem, um farol nos momentos de escuridão. E assim, sua luta contra o câncer se transformou em inspiração, uma demonstração de que a resiliência é uma arma poderosa, mesmo nos campos mais sombrios da existência.
Era um homem de poucas palavras, mas sua paciência era inesgotável, e sua amizade se estendia a todos. A jornada do sargento Noilson Soares Gomes foi muito mais do que uma brilhante carreira militar; foi uma epopeia de coragem e foi um tentativa de superar o maior de todos os seus obstáculos com tranquilidade, passando por ele com leveza e sabedoria. Ele nos ensinou que a verdadeira batalha muitas vezes é travada dentro de nós mesmos, e que a união da tropa é o que nos sustenta nos momentos mais difíceis.
Hoje, enquanto prestamos nossas homenagens ao sargento Soares, lembramos que ele não foi vencido. Ele continua a marchar conosco em espírito, uma presença firme e inspiradora na 87ª CIPM. E assim, como uma tropa unida, continuaremos a defender e proteger nossa comunidade, honrando o legado desse guerreiro incansável a quem sempre seremos gratos por ter tido como irmão de farda.
Edelvânio Pinheiro é militar, escritor e jornalista. É graduado em Língua Portuguesa e Literatura de Língua Portuguesa pela UNEB e tem pós-graduação em Ciências Políticas.
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