Vai chegando, freguesia. Vai entrando, clientela.
Aqui para nós, somente os entendidos do ramo sabem a diferença entre freguês e cliente. O primeiro entra e volta esporadicamente. O segundo vai e volta com frequência.
Mas agora, prestem atenção, o que teria levado um burro a tentar entrar na Mecanon Supermercado em pleno sábado pandêmico do novo coronavírus? Entrar não, invadir o estabelecimento e, ainda por cima, sem máscara!
Se tanto fregueses como clientes são aconselhados a fazer uso da máscara para adentrar as dependências comerciais, como um burrico metido a besta se atreveu a tanto? Será que se trata de um animal negacionista desses que, contrários à ciência, continuam falando mal da vacinação e defendendo o uso da cloroquina por aí?
Ou, não se considerando freguês nem cliente, o quadrúpede se sentiu no direito de invadir o local para comprar um pacote de ração ou, quem sabe, uma pitada de sal mineral?
Nas redes sociais, as pessoas saíram em defesa da alimária: para uns, ela deveria ter sido atendida, do lado de fora, com toda presteza e educação. Porque “Animal também é gente”. Para outros, como o bicho não se encaixa na categoria “bípede implume”, tinha mesmo que ser encarado como uma exceção à regra. “Sem discriminação.”
Como nem tudo são alfafas, teve quem se posicionou contra o equino: “Aqui não, bundão”; “A Mecanon ainda não virou a casa da Mãe Joana”; “Não confunda Vale do Itanhém com Palácio do Planalto”, “Vá pastar em outra freguesia”; “Vade retro!”, e assim por diante.
O cronista – que é conhecedor da tradição local de eleger bichos nos períodos eleitorais – acha que o animal em questão pode ser um candidato disfarçado a um cargo eletivo. Mesmo com as eleições municipais distantes, quem garante que o tal burro não alimenta a pretensão de se candidatar à Assembleia Legislativa ano que vem? Hein!?
A propósito, você eleitor, que já elegeu réptil, bovino, peixe ou ave para administrar a prefeitura, estaria disposto a eleger um asinino dessa vez? Um de direita – já que não faz uso de máscara e álcool em gel em plena pandemia – para a Alba? Pense bem antes de responder.
Mas convenhamos que não seria a primeira vez que elegemos um burro para deputado estadual, prefeito ou vereador. Não é mesmo? Porque de fábula eleitoral nós entendemos como ninguém.
[Crônica de Almir Zarfeg]
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