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Domingo, 20 de Abril de 2025

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Escola de Itanhém faz rifa para comprar impressora e põe alunos para vender boletos, numa falência escancarada da educação pública

E esse não se trata de um caso isolado. Em Itanhém, esse tipo de situação tem se tornado cada vez mais comum.

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Por Água Preta News
Escola de Itanhém faz rifa para comprar impressora e põe alunos para vender boletos, numa falência escancarada da educação pública
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A Escola Marechal Costa e Silva, da rede pública, em Itanhém, está promovendo uma rifa com o objetivo de comprar uma impressora, item básico e indispensável para qualquer unidade de ensino que pretenda funcionar minimamente bem. Os prêmios são uma panela de pressão e uma boleira da Tupperware. Cada bilhete custa R$ 3,00 e o sorteio será no dia 30 de abril, às 17h, na própria escola. Mas o mais revoltante é que, quem está vendendo os bilhetes são os próprios alunos.

A escola pública, que deveria ser um espaço de aprendizado, acolhimento e dignidade, se transforma, aos olhos do poder público, em uma espécie de feira improvisada onde crianças e adolescentes são colocados para vender rifas em nome da infraestrutura básica, que o município deveria prover com responsabilidade e planejamento. É simplesmente inaceitável que estudantes estejam sendo usados como vendedores para tentar tapar os buracos deixados pela má gestão da educação municipal.

E esse não se trata de um caso isolado. Em Itanhém, esse tipo de situação tem se tornado cada vez mais comum. Rifas, sorteios, coisas do tipo “ações entre amigos”, são promovidos por escolas públicas que lutam para garantir o básico: papel, tinta, copiadora e material didático. O problema maior é que, a exposição dos estudantes nesse papel vexatório rompe qualquer limite ético.

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Essa cena grotesca de alunos vendendo bilhetes para ajudar a escola escancara o fracasso administrativo da Prefeitura de Itanhém. O atual prefeito Bentivi (PSB), que prometeu durante a campanha um compromisso prioritário com a educação, parece ter ficado apenas na promessa. Governar é priorizar. E quando uma escola precisa pedir socorro à comunidade — e pior, colocar seus alunos como agentes dessa arrecadação — o recado que se passa é de completo abandono por parte do poder público.

É preciso dizer sem rodeios. Isso é exploração simbólica da imagem dos estudantes, que deveriam estar em sala de aula aprendendo, e não nas ruas pedindo ajuda para comprar equipamentos que são de responsabilidade da Secretaria Municipal de Educação. Sou licenciado em Letras Vernáculas pela Universidade do Estado da Bahia e por alguns anos fui responsável pelas aulas de Língua Portuguesa e Literatura Brasileira, além de Inglês, em escolas públicas. Sei, e muito bem, que é pedagogicamente injustificável e politicamente vergonhoso mandar alunos vender rifas para comprar impressora para uma escola. É um retrato fiel do desrespeito com a educação pública, com os profissionais da área e, sobretudo, com os alunos.

O que se espera de um prefeito é que ele garanta as condições mínimas para o funcionamento das unidades de ensino. Impressora não é luxo. É item básico. E se nem isso está sendo garantido, o que mais está faltando dentro dessas escolas? Água potável? Merenda decente? Salas climatizadas? Pode está faltando até materiais de limpeza.

A comunidade de Itanhém precisa deixar de tratar esse tipo de situação como algo “normal”. Não é normal. E não pode ser. É preciso parar de naturalizar a precariedade, levantar a voz, cobrar providências, expor a realidade. Enquanto aceitarmos que crianças vendam rifas para comprar impressora, continuaremos alimentando um sistema falido que se acomoda na boa vontade da população.

A educação não pode viver de esmolas. E nossos estudantes não devem carregar nas costas a incompetência de quem foi eleito para cuidar das escolas e dos alunos.

FONTE/CRÉDITOS: Por Edelvânio Pinheiro
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