Costumo dizer que o jornalista é, essencialmente, um contador de histórias. O papel desse profissional é relatar os acontecimentos de maneira clara e precisa, mas isso não significa que ele seja um especialista em todas as áreas que aborda. Quando se trata de temas complexos, como o direito, por exemplo, é imprescindível buscar informações com profissionais confiáveis ou investir tempo em leitura aprofundada, como o atual contexto político em Itanhém tem me obrigado a fazer. Além disso, um jornalista precisa ter uma percepção aguçada e uma capacidade interpretativo que se aproxime da perfeição, sempre alimentado pela paixão pela leitura.
Recentemente, fui acometido por uma gripe e uma tosse quase insuportáveis, o que me levou a dormir muito cedo ontem. Acordei por volta das 4h da manhã de hoje, quarta-feira, e aproveitei o momento para ler sobre a Súmula Vinculante 13 do Supremo Tribunal Federal (STF), que visa combater o nepotismo em nosso país. Esse assunto me fez lembrar da segunda gestão do ex-prefeito Milton Ferreira Guimarães, o Bentivi, e de uma conversa que tivemos sobre sua intenção de colocar sua esposa, Dona Lidiane Guimarães, como secretária da Assistência Social.
Agora, acredito que já posso abordar esse tema, pois se passou um tempo considerável desde aqueles dias, e é provável que não fui o único a ouvir os planos do então prefeito. Embora nunca tenha sido um conselheiro próximo de Bentivi, sempre acreditei que ele poderia ter feito escolhas mais sábias à frente da prefeitura, como preparar um sucessor e confiar em pessoas mais competentes, o que ele não fez.
Opinei favoravelmente sobre a entrada de Dona Lidiane na gestão. Ela sucedeu Liebeto Gonçalves, que foi um dos melhores secretários da Assistência Social que Itanhém já teve, e Dona Lidiane também se destacou, recebendo elogios até mesmo do marido.
Apesar disso, não sou a favor de que familiares ou cônjuges ocupem cargos diretamente ligados à administração pública, especialmente em uma gestão municipal. Prefiro respeitar a decisão do STF em relação ao nepotismo, que busca garantir a imparcialidade e a ética na administração pública. Mas é interessante notar que, em muitas cidades do Brasil, há uma tradição da primeira-dama cuidar dessa área na prefeitura, muitas vezes tornando-se uma figura influente.
Entretanto, o que precisamos refletir é sobre os limites dessa influência. A presença de uma primeira-dama como secretária da Assistência Social pode ser benéfica, desde que haja um entendimento claro de que seu papel não deve extrapolar as suas funções. O perigo surge quando essa figura, mesmo que com boas intenções, comece a se interferir em outras áreas, como a Secretaria de Finanças, por exemplo; apenas para lembrar, é na Secretaria de Finanças que passa todo o dinheiro de uma prefeitura. A linha tênue entre apoiar o trabalho do marido e querer comandar decisões de outras pastas pode levar a uma administração confusa e, eventualmente, sabe se lá Deus o que pode acontecer nos bastidores. Portanto, é importante que haja clareza nas funções e responsabilidades, como na ocasião Bentivi deixou bem claro para Dona Lidiane e ela cumpriu rigorosamente a determinação do então prefeito.
A gestão pública deve sempre primar pela transparência e pela meritocracia, garantindo que cada secretário e colaborador, independentemente de laços familiares, seja escolhido com base em suas capacidades e experiências, e não por imposição da mulher ao marido. Assim, garantimos que a administração pública funcione de maneira eficaz, sem os riscos que o nepotismo pode trazer, como os observados na gestão de Zulma Pinheiro, quando seus irmãos ocupavam as secretarias que, por sua natureza, são as que geram mais recursos.
Para um entendimento mais claro do que quero expressar neste artigo opinativo, se a primeira-dama estiver disposta a contribuir de forma construtiva e respeitar os limites de sua função, como fez Dona Lidiane quando seu marido foi prefeito, sua presença na Secretaria da Assistência Social certamente será positiva. No entanto, se a ambição de poder ultrapassar essas barreiras, o que deveria ser uma colaboração saudável pode se transformar em um campo minado, comprometendo por completo a gestão pública. E é isso que precisamos evitar a todo custo.
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