Edelvânio Pinheiro*
A política brasileira tem revelado, nos últimos anos, uma triste vocação para o julgamento fácil e, muitas vezes, hipócrita. Basta lembrar quantas vezes Bolsonaro, Carla Zambelli e tantos outros da mesma turma repetiram à exaustão que Lula era “presidiário”, “ladrão”, “bandido”. Em debates, nas redes sociais, em entrevistas, faziam questão de transformar essa narrativa em verdade absoluta, como se a política fosse apenas um ringue de ofensas. Quando o atual presidente estava preso, Zambelli chegou ao ponto de gravar vídeos, com ar de superioridade, dizendo que quem gostasse de Lula poderia visitá-lo no Natal.
Mas a vida, com sua ironia fina e implacável, costuma recolocar cada um no seu lugar. Há um ditado antigo, repetido com sabedoria pela minha mãe, Maria Pinheiro: “quando o mal de um está no copo, o do outro está na garrafa”. E não é que o tempo mostrou exatamente isso? Os que pregavam que “bandido bom é bandido morto” agora se veem às voltas com denúncias, investigações e prisões. O que antes era usado como deboche retorna como um espelho desconfortável para quem achava que jamais seria alcançado. No fim das contas, talvez não falte quem, neste Natal, visite Bolsonaro e Carla Zambelli, mas agora por razões bem diferentes daquelas que eles um dia alardearam.
Essa reviravolta não deveria ser recebida com rancor, mas analisada com maturidade. Ela revela uma lição simples e profunda, ensinando a esses dois e a todos que duvidarem dessa análise, que é perigoso usar a desgraça alheia como palanque. Porque o mundo gira, as circunstâncias mudam, e aquilo que se diz com arrogância pode retornar como vergonha. Quando atacamos os outros com ferocidade, esquecemos que ninguém está imune aos próprios tropeços.
Por isso, é sempre bom refletir antes de apontar. A palavra dita com soberba se transforma em peso quando o vento muda de direção. E, no fundo, talvez a lição mais importante seja a de que a política precisa menos de julgadores e mais de gente que olhe para o outro com a humildade de quem sabe que a vida é uma roda e que um dia todos nós passamos por ela.
*Edelvânio Pinheiro é bacharel em Jornalismo pela Católica (UCA), foi editor do jornal Alerta de Teixeira de Freitas e correspondente do A Tarde, de Salvador, na extinta sucursal do extremo sul, e é diretor-geral do site Água Preta News. É também radialista, ex-chefe de jornalismo da Rádio Extremo Sul de Itamaraju e diretor-geral da Rádio Master FM, de Itanhém. Escritor, autor de sete obras, incluindo uma obra infantojuvenil publicada no Brasil e em Portugal pela editora Flamingo, possui licenciatura em Letras Vernáculas pela Universidade do Estado da Bahia (UNEB) e é pós-graduado em Ciências Políticas.
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